Foto: FishEye Photografy
Carisma, auto-estima elevada e muita alegria. Esse é o Antonio Machado, um carioca que veio começar a nadar em Floripa e agora é uma das figuras mais inspiradoras do Circuito Ocean, prova de natação organizada pela PDA Esportes em águas abertas, no litoral catarinense. Entre tantas histórias de toda a sua trajetória, ele nos contou um pouco sobre a sua vida e as experiências nadando no mar. Confere aí esse papo agradável:
Conte-nos um pouco da sua história pessoal e da sua relação com o mar.
Nasci no Rio de Janeiro em 1942 sob a influência do samba. Conheci Clementina de Jesus, Helton Medeiros e Tom Jobim. Naquela época a gente respirava maresia e a vida passava devagar. Desde sempre tive contato com o mar através dos barcos, eu vivia no Leblon, mas sempre gostei de mar mais agitado, talvez por isso sempre gostei de velejar. A natação já é algo mais recente.
Me formei em Medicina pela UFRJ, fiz pós-graduação na UAPE - USP e atuei como Cirurgião por toda a minha carreira médica. Assim que me formei em Medicina, fiz concurso para Marinha do Brasil, e um ano após me embarcaram em um rebocador, então tive que optar entre a cirurgia e a vida militar. Até tentei conciliar os dois, mas não consegui.
Moro em Florianópolis desde 2002.
Um carioca já nasce apaixonado pelo mar?
Não sei se nasce apaixonado, mas eu sempre procurei me manter próximo do mar. O fato de eu morar no Leblon fez a vida ser melhor para mim porque eu ia pra faculdade sempre olhando o mar. A minha mãe dizia: “A vida só gosta da gente se a gente gostar da vida.” Depois veio a medicina que me envolveu e que tentei conciliar com o mar, mas tive que optar entre a cirurgia e o mar, através da Marinha. A cirurgia venceu.
Quando era adolescente, meu pai pedia que eu molhasse o barco frequentemente, porque naquela época os barcos eram de madeira. Isso teve grande influência nesse meu gosto pelo mar e por velejar, e agora pela natação no mar.
A natação em águas abertas sempre esteve presente na sua vida como um esporte regular?
O pessoal aqui só veleja no verão até porque o frio intenso não ajuda. Eu vendi o meu veleiro, o Delta 32, que havia trazido do Rio e estava em Santo Antônio de Lisboa. A solução para eu continuar em contato com o mar, foi nadar. Minha vida de nadador começou de 2015 pra cá, antes disso eu nunca havia treinado. Nadava só porque velejava muito. Comecei a nadar e logo a treinar com o Prof. Yuri, da equipe Power Assessoria, que é um grupo muito bacana, o que me anima muito para treinar e participar das competições.
Deixa eu te contar uma pequena história: Nós estávamos fundeados em Parati, e do lado tinha um veleiro com o mastro muito cassado. Eu falei para o grupo que deveríamos avisar, pois se com esse mastro pegasse uma orsa grande iria partir. Mas o dono do nosso barco não quis ir com o bote inflável pois pelo horário, ele já estava lavado e embarcado no barco. Então eu disse que ia até lá nadando, o que foi uma surpresa para todos os tripulantes, pois não sabiam que eu teria condições de nadar essa distância no mar. Depois que o dono do barco avariado me levou de volta ao meu barco, fizemos uma grande confraternização por essa minha proeza.
Foto: Arquivo Pessoal - Antonio Machado
O senhor conclui a Temporada 2019/20 do Circuito Ocean como o atleta mais experiente da competição. Isso lhe motiva ainda mais para continuar? E como está a sua fama entre os atletas do circuito, está tirando muitas selfies?
O fato de ser o mais velho, nada de experiente rsrsrs, não me influencia em nada, pois o meu sentimento ali é de puro prazer e de fazer o melhor que eu posso, independente das condições dos demais competidores. Sobre a fama, não sei se sou famoso, mas estou sempre me aproximando dos demais atletas e das outras equipes. Gosto muito de estar sempre confraternizando e curtindo a vida.
Quais as dificuldades físicas e mentais que o senhor percebe atualmente no dia-a-dia, principalmente na natação, em relação a quando tinha menos idade?
Eu acho que existem sim. Eu vou fazer 79 anos agora em maio (2021), então é impossível não ter alguma limitação física nessa fase. Mas, eu sobrepujo isso de alguma forma que eu não preciso tomar nenhum energético para continuar vivo e mentalmente atento com as coisas.
A sua família continua lhe incentivando a nadar no mar? Eles se sentem inspirados com os seus feitos nas travessias de natação?
A minha família está dispersa, meus filhos cada um mora em cidades diferentes. Então eles não acompanham tão próximos assim as minhas rotinas. Meu filho do meio, o Thiago, é o que curte mais as minhas aventuras, acho que ele é mais parecido com o meu estilo de encarar a vida.
Como o senhor encarou a pandemia e a necessidade de quarentena nesse último ano?
A pandemia foi um caos, pra mim e pra todo mundo, literalmente. E continua sendo. Mas temos que juntar o que restou disso tudo e tocar a nossa vida. É isso o que eu faço, ou pelo menos tento fazer. A minha ideia é não parar, não parar nunca.
Para um espírito livre como o senhor, imagino que queira viajar muito ainda e possivelmente incluir algumas travessias de natação nestes roteiros. Como está essa programação para os próximos anos?
Ainda farei muitas viagens e as travessias com certeza devo incluir nos roteiros. De viagens programadas eu irei em outubro para França, que já foi adiada cinco vezes por causa da pandemia, e em dezembro irei para Nova Iorque passar as festas de final de ano com uma grande amiga. Um dos lugares que tenho muita vontade de conhecer é o arquipélago de Cabo Verde, e lá também acontece uma prova de natação no mar, espero poder fazer essa prova também.
De viagens com travessias nos roteiros que já realizei estão Barbados, Croácia e entre outros lugares encantadores. Em Barbados foi a minha primeira travessia que nadei, em 2018, acompanhado do Prof. Marcos Pinheiro.
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